segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Em defesa da ANECS, apesar de tudo

Essa postagem é, em partes, um diálogo com essa crítica à Articulação Nacional de Estudantes de Ciências Sociais (ANECS), mas também uma tentativa de resgate da história da entidade e uma contextualização de sua existência presente. Sobre o fio condutor da crítica, em relação a casos de machismo, espaço auto-organizado de mulheres e feminismo, não me deterei; porque o assunto não me compete diretamente e porque tais debates já foram realizados com maior competência em outros momentos - dentro e fora da entidade e dos eventos desta -, inclusive nesta carta.
ENECS BH - 2011
Comecemos pelo começo: a ANECS surge no Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais (ENECS) em 2011, em BH, numa tentativa de, como seu próprio nome deixa entrever, articular estudantes de Ciências Sociais de todo o Brasil. Vê-se, então, que diferente da maior parte das entidades de outros cursos, a ANECS é recente. Nomeando o que deve ser nomeado, a entidade surge com grandes esforços especialmente do Levante Popular da Juventude (que era, a propósito, parte influente da Comissão Organizadora do evento). Daí até 2012 o Levante foi bastante empenhado na sua missão de espalhar a palavra: estava criada nossa entidade. Estudantes de Ciências Sociais, uni-vos mais uma vez!
ENECS Santa Maria - 2012
O encontro nacional do ano seguinte, realizado em Santa Maria - RS, tinha como objetivo a definição do que, de fato, seria a entidade. Ok, éramos todxs ANECS, mas que raios significava se articular? Horas e horas e mais horas (cerca de 14!) de plenária e terminamos a redação de nossa Carta de Princípios. Eu, novato de movimento estudantil, começava a ver, nesse meu primeiro encontro nacional, uma disputa ferrenha entre militantes do PSOL (na época pelo Rompendo Amarras) e do Levante. Tínhamos princípios, mas a ANECS estava em guerra.
CONECS Vitória - 2013
A disputa talvez tenha atingido seu ápice no Conselho Nacional de Estudantes de Ciências Sociais (CONECS) Vitória - ES (no começo de 2013). Esse foi um evento importante, porque daí foi que saiu a proposta de estatuto para a entidade. Com todos os conchavos e tramóias, mas também com muita discussão (produzimos acúmulo, alguns diriam) e muita vontade, a ANECS parecia agora um gigante, tomando forma. O que se via nos meses seguintes, entretanto, era um distanciamento cada vez maior da "militância orgânica" - como chamamos no estatuto, posteriormente, aquelxs estudantes que permaneciam e se empenhavam na construção da ANECS. De todos os encaminhamentos do CONECS, não se viu nem a relatoria. O que pensamos ser, finalmente, a reorganização de estudantes de Ciências Sociais começava a esmorecer. Mas ainda havia o estatuto...
ENECS Fortaleza - 2013
O ENECS Fotaleza foi a prova cabal do que os encontros regionais já demonstravam: o Levante havia abandonado a ANECS. O PSOL também já não se importava muito com a entidade. O que aconteceu foi que toda essa militância que imaginávamos ser orgânica - e que na verdade era comprometida apenas com seus patidos/coletivos - inflou a ANECS e, ao sair, não deixou qualquer acúmulo para suas respectivas escolas. Ainda assim, o encontro nacional aconteceu, o estatuto foi aprovado. Formalmente, a ANECS começava a existir de fato. E agora?
Articulação Nacional de Estudantes de Ciências Sociais
Saímos desse ENECS com uma Coordenação Nacional (CN) que nunca existiu realmente, apesar dos esforços. No fim, parece que não havia mais escolas organizadas enquanto ANECS. Articular... quem? Para que mesmo? Nesse momento nem mais a militância orgânica não-partidária tem mais forças. É nesse contexto que, em meio a diversas confusões, o CONECS 2014 acaba não acontecendo. Há uma falta de comunicação nacional. Os encontros, regionais e o nacional, são a última esperança de tentar resolver tudo o que tinha para ser resolvido. A última chance de, talvez, reconstituir militantes que se comprometam com a ANECS.
Sem fotos do grupo...
Findo este último ENECS, lendo ambas as cartas já citadas e ouvindo relatos de amigxs, concluo: a ANECS falhou. Apesar de tudo, no entanto, sinto que é preciso defender a entidade, seja pelo meu empenho nesses últimos anos, seja pelo empenho de dezenas de colegas, seja porque sua falha é o motivo mesmo de sua necessidade: estudantes de Ciências Sociais de todo o Brasil, precisamos nos articular! Obviamente, esse é um clamor de certo modo vazio. Aí é que está: a ANECS está aí para definirmos o que ela vai ser - agora na concretude, e não mais nas formalidades. Se houve "autoconstrução de uma pequena burocracia estudantil" em todo esse processo, essa se deveu, por um lado, por nossa obstinação com a concretização da ANECS (que nos parecia uma travessia etapista: primeiro a carta de princípios, então o estatuto, daí a luta) e, por outro, ao próprio desinteresse de grande parte de cientistas sociais em formação em se envolver com uma entidade da própria categoria. A crítica de colegas da UNILA e da UFG é extremamente pertinente, porém acaba por se perder ao tentar enfatizar a usurpação de uma burocracia partidária dos objetivos da ANECS - o que, se existiu, afirmo categoricamente: não existe mais. O que eu responderia a essxs colegxs é: o que vocês criticam não é a ANECS, mas o fato desta nunca ter conseguido articular concretamente estudantes de Ciências Sociais de todo o país para que se envolvam em lutas, com nossas pautas, com nossos temas. É preciso que a ANECS retome seus princípios, seus objetivos, não que ela deixe de existir.
Yasmim, Polly, Saulo, Luana, Gabs... <3
Esse texto é o começo de uma despedida pessoal da entidade. Pode ser clichê dizer isso, mas militar na ANECS me proporcionou muitos aprendizados e me fez conhecer muita gente bacana por esse Brasil. As longas plenárias, as viagens mais longas ainda, os debates, as inimizades, as aporrinhações... tudo isso foi fundamental na minha formação - acadêmica e militante. Espero que tenha conseguido também construir algo de postivo para o movimento estudantil de Ciências Sociais. Enfim, se a ANECS dará certo ou se foi uma utopia ousada demais para ser real, só a história nos dirá. História que ainda está por ser escrita. E meu adeus é também um convite: estudantes de Ciências Sociais desse Brasil enorme, uni-vos e lutai. Que as Ciências Sociais voltem a ser perigosas!

3 comentários:

  1. Que os estudantes de ciências sociais militem na nossa categoria e não apenas nos movimentos sociais! UFRRJ

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  2. Fiquei emocionada ao ler esse texto, a ANECS é um caos necessário em tempos de desesperança...

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  3. Cara, eu to puto, escrevi um monte de coisa, e perdi por mimimi alheio de quem deveria participar da ANECS e não participa tbm.

    o lance da carta da UFG/UNILA é o retrato do movimento estudantil atual.

    Esquece dos históricos/acúmulos, se não os sabe não procura saber, faz crítica vazia a todo momento, quando não, muuuuuuuuito equivocada.

    Crítica justamente aquilo que buscou no encontro, se teve alguém que fez conchavos para levar o encontro foi justamente a UNILA com a UFG, a UFG deu pra trás no último momento (como sempre) e ambas não se propuseram. Critica a disputa partidária no encontro, eu não vi Levante, não vi PSOL, mas vi um cara (pásmem) da UFG com a camisa do Quilombo. Eu não vi nem nas delegações turisticas machistas escrotos, mas vi homens da UNILA querendo invadir o espaço auto-organizado de mulheres.

    Ironia é a vida.

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